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Foto do escritorPriscilla Imperial

Diário de uma Esquecida: Reflexões sobre Autoconhecimento e o Sentido da Vida



Onde guardamos nossas memórias mais delicadas?

 

Eu nasci em 1975, uma época onde as meninas escreviam sobre seus sentimentos em um caderninho que chamávamos carinhosamente de “diário”. Este caderninho tinha um cadeado com uma chave única, que acreditávamos ser inviolável. Apenas pessoas de nossa extrema confiança tinham o privilégio de sentar ao nosso lado e ver algumas poucas páginas ou lembranças de bons momentos vividos.

 

O diário era um lugar sagrado, onde guardávamos nossas memórias mais delicadas, entre elas estavam nossos medos, sonhos, frustrações... Pétalas secas, perfumes, lágrimas, trechos de músicas e poesias.            

 

As canetinhas coloridas davam o tom dos nossos sentimentos: mágoas, risadas, amores, decepções, orações... Cada desenho era um pedaço da gente, uma peça do quebra-cabeça que formaria nossa identidade no mundo. Em meio a cada pensamento, era possível reviver palavras, olhares, sentir as pernas inquietas e as mãos trêmulas. O coração aflito indicava a busca por respostas, um lugar seguro para falar sobre o que estava trancado a sete chaves em nossa alma.

 

Nesse vai e vem de palavras escritas, às vezes desenhadas, em meio a sentimentos e pensamentos, buscávamos encontrar um porto seguro, um abraço amigo, olhar amoroso, um gesto de carinho, uma palavra de esperança para medos incompreendidos. Ora me sentia a dona da verdade, ora minhas certezas caíam por terra e voltava à estaca zero da compreensão sobre mim mesma e sobre todos neste mundo.

               

O que existe de incomum entre a Ansiedade e a Depressão?

 

Na minha infância e adolescência, não me recordo de ouvir falar em “ansiedade” ou “depressão”. Porém, anos depois, percebi que esses nomes davam voz a algo muito familiar: o medo do passado se repetir no futuro.

 

A depressão é a memória silenciada de uma dor que já vivemos. Já a ansiedade é a voz dessa dor projetando riscos no futuro, imaginando que o sofrimento possa se repetir. Refletindo sobre isso, pensei: nossos diários poderiam ser chamados de “o livro de nossas maiores angústias”, porque eram preenchidos por esse desespero tão presente, tanto na depressão quanto na ansiedade.

 

O que é a Angústia?

 

A primeira vez que ouvi o significado da palavra “angústia” foi na faculdade, durante uma aula de psicopatologia. A professora explicou que tristeza e angústia são diferentes. A tristeza é nomeável: sabemos por que estamos tristes. "Estou triste porque tirei uma nota baixa", "porque meu casamento terminou", “porque perdi uma pessoa querida"...

 

Cada situação revela a razão pela qual a tristeza chegou ao nosso coração, mas a angústia, por outro lado, não se explica.  Mesmo que alguém insista em saber o motivo, as palavras fogem da nossa mente e tudo o que conseguimos dizer é um dolorido e desesperador: “Eu não sei!”. Foi neste momento que entendi o significado das pétalas secas, dos desenhos de corações partidos, das flores e ursos dos papéis de carta perfumados. Eles eram expressões de algo acumulado – dores incompreendidas, ressentidas e revividas inúmeras vezes.

 

Ressentimento é sentir a mesma dor do passado mais de uma vez e novamente, novamente... e novamente. Assim nasce a ansiedade: do medo de reviver dores que se perderam do rumo das palavras. A angústia é muito mais e além do que o motivo de uma tristeza específica, é a somatória de memórias que apertam o peito de tal forma, que nos falta o ar para respirar.

 

O que Existe nas Entrelinhas da Vida?

 

Se pudéssemos traduzir todas as lembranças dolorosas da nossa vida em palavras, talvez não sobrevivêssemos a elas. Por isso, é especialmente importante entender o que está nas entrelinhas do discurso, gestos e comportamentos: emojis, mensagens prontas com frases de bom dia e de boa noite, refrões e letras de músicas idolatradas, telefones bloqueados, fotos de perfil retiradas do whatsapp e redes sociais... Orações postadas para Deus no facebook e instagram... Declarações de amor para pais, mães, filhos, esposas e maridos, aos amigos queridos... Tudo isso é um diário aberto, sem cadeado, sem chave, sem critério. São pedidos de ajuda. Comportamentos que revelam pensamentos, autojulgamentos, autocríticas severas, mecanismos de autoproteção disfuncionais, perigosos... Crenças equivocadas, medos, memórias, acúmulo de lembranças tristes que, somadas, se tornaram angústia diante das lágrimas silenciosas e solitárias.

 

Por que investir em Autoconhecimento?

 

Toda palavra escrita, falada ou engolida revela sentimentos e necessidades legítimas e verdadeiras. Não se engane achando que é “bobagem” ou “coisas da sua ou da cabeça de outra pessoa”! Não tarde em reservar tempo para entendê-las. Investir em autoconhecimento é aprender a criar as condições necessárias para o desenvolvimento de relacionamentos duradouros e prazerosos, comportamento que promove amparo, proteção e um lugar seguro e saudável de pertencimento.

 

Lembre-se que precisamos construir um mundo agradável para vivermos e que, se é verdade que toda ação tem uma reação, que sejamos protagonistas de lindas histórias de amor e bem-querer.

 

Que possamos nos tornar a paz, o lar e a alegria da vida uns dos outros, começando por pela compreensão da origem de nossos sentimentos e pensamentos. Prosseguindo na ampliação de consciência sobre os aspectos que direcionam cada palavra proferida de forma precipitada e impensada, que formam as maiores dores da nossa vida.

 

Antigamente, nossas palavras eram descritas em um diário trancado. Hoje, não estão mais em uma gaveta esquecida em nosso guarda-roupas, mas registradas na nuvem da eternidade. Fotos, bolos, lutos, perdas, sonhos, conquistas, ambições, vaidades, fragilidades... Apresentamos tudo que sentimos ao mundo, para que ele nos apresente a nós mesmos e, assim, em meio aos relacionamentos que temos uns com os outros, construímos nossa identidade. Portanto, minha oração de hoje é para que o nosso julgo seja leve e que o nosso olhar não pese mais do que um abraço carinhoso que também é registrado em nossa memória. Em meio a tantos diários abertos, tudo o que desejo lembrar daqui para frente é o que me faz sorrir e traz paz ao meu coração. A vida vai passando e a bagagem precisa ir diminuindo. Só deve ficar o que realmente é essencial.

 

Qual é o Verdadeiro Sentido da Vida?

 

Em janeiro faço 50 anos de vida. Jamais imaginei que chegaria até aqui... Depois de entender o significado de tantas palavras, gestos e comportamentos, trago dentro de minha alma uma única certeza, dentre tantas que já tive no decorrer da vida:

 

Nem todo conhecimento do mundo fará cessar a dor. Nenhum medicamento, drogas e bebidas alcóolicas vão levar embora as feridas da alma. Nem todo diploma, dinheiro e câmeras do mundo nos fará sentir seguros e felizes. A fama passa, o poder pesa, as vaidades nos tornam escravos solitários entre jogos de interesses e oportunidades vazias de significado.

 

Então, minha certeza é que somente o amor cura as amarguras da vida. No entanto, os pequenos gestos amorosos, que esperamos receber uns dos outros, só acontecem quando conseguimos ver, além das nossas próprias feridas, a dor alheia. Por este motivo, é necessário compreender que amar envolve escolher alimentar a empatia nas relações humanas, algo que requer autoconhecimento e desenvolvimento pessoal.

 

Acalmar corações aflitos é a base que sustenta o amor e este é o único e verdadeiro sentido da vida.

 

O que você tem feito para cultivar o amor em sua vida?

 

Compartilhe sua experiência conosco!

 

Com meu carinho de sempre,

 

Priscilla Imperial

 

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